Imersão em Contos [4]

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Leia a série do início: Prolegômeno
Capítulo anterior: O Início
A Descoberta
 
              Aquela noite invernal começava a trazer suas marcas. Os pés gelados de David marcavam a queda brusca de temperatura, comum naquela época do ano. Aproveitou que rolavam apenas comerciais, e foi até seu quarto trocar aquela roupa do trabalho e botar algo mais confortável. Pôs uma meia de lâ, um par de alpargatas, uma calça de abrigo, e foi se enrolar em um cobertor, no sofá da sala. Atento com o início do segundo bloco do programa, recosta a cabeça em uma almofada na guarda do sofá, e lentamente vai desligando-se do barulho dos carros que vem lá de fora...

Voltamos à apresentar nosso especial sobre o caso de Maurício. Após a tinta da caneta acabar, ele sai em busca de outra caneta, e pelo visto demora vários minutos para conseguir isso. Quando consegue, segue escrevendo sobre o que aconteceu naquele dia. Confira:


         “Até que enfim consegui achar uma maldita caneta nessa casa escura. Se ao menos tivesse algo que iluminasse mais que uma lanterna. Minha vontade era bater minha cabeça na parede até que não sobrasse mais nada dentro dela. Mas não posso. Preciso escrever. Preciso que todas as pessoas saibam o que está acontecendo aqui. Onde parei mesmo? Acho que estava no momento em que tinha começado a procurar as chaves para tentar abrir a porta que deveria estar já aberta. Isso mesmo.

         No momento em que decidi ir atrás das chaves, logo saí da sala onde eu estava, passando para a sala em frente, pois sabia que lá tinha uma pequena estante com algumas gavetas onde poderiam estar as chaves. Atravessei o portal que levava para a sala posterior com a lanterna em punho, pois não conheço ninguém que goste mais de mesinhas de centro do que Luna. Entrei na sala, iluminando todos os lados em busca de alguma pista do que poderia estar acontecendo, porém tudo estava no mais absoluto silêncio, e imerso na escuridão características dos vidros cobertos. Logo à direita já me aproximei da pequena estante, procurando em suas gavetas e portinholas por vestígios de alguma chave, ou até mesmo algo que me fizesse entender o que estava havendo. Porém novamente sem nenhum sucesso. Apenas algumas revistas velhas e pilhas, o que ao menos me era útil, pois a lanterna não parecia estar com toda sua potência.

         Enquanto tirei calmamente todos os objetos de dentro das gavetas, criando uma certa bagunça, escutei um barulho alto vindo dos quartos. Foi um barulho tão intenso de algo caíndo, batendo, ou seja lá como posso descrever aquele som, que me apenas tive a instintiva reação de largar tudo da maneira que estava, derrubando alguns objetos inclusive, e correr para o corredor dos quartos, chegando em quatro passadas largas à porta do quarto de Luna, que era o último do corredor. Tentei abri-lo porém estava da mesma maneira que a porta da frente, completamente trancado. Imaginando que o som pudesse ter vindo de outro quarto, virei-me para o lado e dei um passo em direção à porta do segundo quarto. Dessa vez antes de fazer qualquer besteira puxei o trinco da porta para baixo, e empurrei lentamente a porta, abrindo completamente a minha visão para o quarto, porém o que eu percebi lá dentro fez com que eu sentisse como se estivesse com uma maçã grande e podre dentro da minha boca. Além do cheiro pútrido que o quarto exalava, no momento em que a porta encostou na parede, desviei o facho da lanterna para a janela e tive a impressão de ver algo se mexendo por trás da cortina e que não consegui identificar. A cortina ondulou como se algo tivesse passando de um lado a outro, até movimentar suavemente os pedaços de pano que estavam jogados em cima da cama. Quando os movimentos silenciaram completamente o seu bailar sinistro, escutei um forte estampido bem ao pé do ouvido, fazendo com que eu me jogasse para trás, batendo as costas na parede do corredor, derramando alguns pingos de suor gelado pelo susto que acabara de tomar.

         Após alguns segundos me recuperando do susto, dei um passo à frente e passei rapidamente os olhos por todo o quarto buscando o causador daqueles barulhos, mas dessa vez muito mais apreensivo. A cama estava sem qualquer forro, tendo apenas alguns pedaços de pano encima. O guarda roupas em frente à cama tinha todas as portas abertas, porém nada continha a não ser algumas prateleiras e vários cabides velhos atirados a esmo, assim como alguns velhos insetos que não ficaram muito satisfeitos comigo importunando seu sono que já deveria durar alguns dias. Girei meu corpo um pouco à direita em direção ao balcão que ficava ao lado da cama, quando tomei meu segundo susto do dia. Quando a luz da lanterna tocou a parte de cima do balcão, vi um vulto preto saltar em minha direção. Com o susto, me joguei para trás e estatelei no chão do quarto, quando aquele negócio com não mais de 60 cm saía correndo em direção da cozinha, miando de medo, esparramando pelo chão várias caixas de sapato. Mais uma vez me levantei do chão sujo e entrei quarto adentro, já com o medo vagando longe, e fui averiguar o que tinham naquelas caixas que o gato estúpido tinha derrubado.

         À primeira vista, consegui perceber algo quadrado que refletia a luz da lanterna. Cheguei mais perto e  percebi que havia uma câmera dentro das caixas. Por um lado tive sorte por ela estar ligando, porém não me adiantou de muita coisa, já que não havia nenhuma foto dentro dela. Guardei a câmera no bolso e voltei minha atenção novamente para o chão. Com luz direto nas caixas, percebi um brilho dentre os objetos caídos. Estendi minha mão direto àquele brilho, e puxei até mim um pequeno chaveiro em forma de estrela. À medida em que iluminava as diferentes partes dessa estrela, vários feixes multicoloridos eram projetos na parede, formando os mais diversos objetos. Fiquei alguns segundos admirando a beleza das formas, quando me dei conta de que havia uma chave na ponta desse chaveiro.

         Alegre com minha descoberta, voltei à porta de entrada, passando pelo corredor, agora todo impregnado pelo fedor que saía do quarto, e fui direto testar se conseguiria abrir a porta. Lá chegando, fui tão afoito que quase cometi um acidente ao forçar a fechadura com uma chave que não entrava no buraco. Esbravejei por alguns instantes, mas logo pensei o que poderia significar aquela chave.

         Voltei lentamente à porta do quarto dela, imaginando que eu precisaria nesse momento de um golpe de sorte, mas depois de tantos revezes, quem sabe né?!

         Cheguei em frente à fechadura do quarto de Luna, fechei os olhos, torcendo para que desse certo. Prendi o ar, segurei a chave em minhas mãos, e finalmente o primeiro alívio, a fechadura aceitou. Faltava a segunda parte. Vagarosamente girei a chave, e pra minha surpresa a fechadura retraiu, e a porta se abriu. Em dois passos já estava dentro do quarto.

         Eu preciso descrever o que vi. Mas por mais que pense e rabisque nessa maldita folha não consigo encontrar as palavras certas para descrever o que eu vi e senti. Por isso, farei com que seus próprios olhos possam enxergar o horror pelo qual passei ao abrir aquela porta....”

         Nesse momento a imagem congela. Os olhos de David se esbugalham em pura descrença enquanto imagens começam a se formar na tela... Imagens tão insanas que talvez seja necessário mais do que apenas palavras para mostrá-las...

Próximo capítulo:  O Quarto

 

Veja também:

5 Comentários:

Tio disse...

eeeh....ateh q tamo indo bem neh?
uahaahuaaauhaauhaa

Anônimo disse...

AHH!!! Estou ficando sem unhas... Poste logo!

MeU BloG disse...

AHH!!! Estou ficando sem unhas... Poste logo! [2]

Alfer Medeiros disse...

E que venham as imagens!

Anônimo disse...

Tá bem legal a história ate aqui, tem passado o clima de jogos de point-and-click: explorar um lugar desconhecido, conseguir itens, desvendar um misterio e, quem sabe, achar a saida :P
Aguardando o próximo...