Imersão em Contos [2]

sábado, 7 de agosto de 2010

Leia a série do início: Prolegômeno 

O Despertar

          David acordou aquela manhã cumprindo seu ritual. Espreguiçou-se estralando os ossos das costas e das mãos, deu um bocejo alto e deu um impulso para conseguir sentar na cama. Coçou a cabeça e pegou o controle remoto da televisão, ligando-a no noticiário local. Enquanto a moça do tempo dava suas primeiras previsões para o fim de semana, calçou os chinelos e levantou para pegar a agenda em cima da escrivaninha, que ficava do outro lado do quarto, encostada na parede oposta. Leu os lugares os quais ele teria que visitar, alguns para fazer o orçamento de câmeras novas, e outros para de fato fazer a instalação das já adquiridas câmeras de segurança, por seus clientes.
          Sempre pensava o quanto era bom trabalhar por conta, mesmo sendo em uma área difícil no mercado, por estar cheia de boas e grandes empresas de vigilância, mas com o seu esforço conseguiu se tornar um profissional prestigiado pela região, sendo contactado muitas vezes para fazer esse serviço.
          O noticiário começou a apresentar as notícias do dia anterior. Nada além do normal durante a maioria do tempo. Algumas reportagens sobre cães e seus donos, outras sobre a temporada de chuvas que ultrapassava o volume normal para aquele mês. No intervalo, algumas propagandas de bebidas e gomas de mascar, e uma vinheta que começou exatamente quando ele, já com a escova de dentes fazendo seu serviço matinal, sentou na cama e ficou estático, prestando atenção em cada detalhe. Talvez pela música de mistério, ou quem sabe pelo tom assustador pelo qual eram narrados os fatos, mas seus olhos não desgrudavam da tela.
          “Será apresentado um programa especial sobre alguns fatos que preocupam, assustam e intrigam a polícia local. - dizia a reportagem - Será contada a história do jovem Maurício, de 27 anos, que vem atraíndo a atenção da mídia nos últimos dias. A polícia decidiu reunir e divulgar todo o material coletado sobre esse caso. Confira logo mais ao meio dia uma prévia do que seria a primeira parte de uma carta escrita por ele.”
          Alguma coisa naquela chamada prendeu a sua atenção. Soube que já tinha ouvido sobre esse caso, mas infelizmente não se recordava exatamente do que havia acontecido. Algo dentro dele dizia que ele deveria assistir a esse programa.

          David chegou em casa alguns minutos antes do horário habitual, ligou sua televisão no canal que tinha anunciado a prévia da carta, pegou alguns sanduíches, e sentou-se em frente à tela, aguardando o conteúdo que por algum motivo ele teria que ver.

          “Como prometido, o caso de Maurício irá a público na íntegra, em um programa especial feito com provas encontradas pela polícia, exclusivamente divulgadas para nossa equipe de reportagens,  onde muitas perguntas encontrarão as suas respostas, porém muitas outras ficarão ainda no ar.” - Ele segurava o sanduíche entre o polegar e o indicador, porém a fatia de pão de cima já pendia para o chão, pois sua atenção fora toda direcionada à tv - “Hoje à noite o país irá parar para enfim saber o que todos se questionam. O que aconteceu com Maurício?! Para dar-lhes uma prévia do que vocês irão encontrar, segue um trecho da primeira carta encontrada pelas autoridades locais:”


          E uma imagem de uma carta, com muitas palavras riscadas foram mostradas na tela:


          “...minha cabeça doeu tanto, mas tanto, que parecia que eu tinha sido atropelado por um caminhão carregado. Meus olhos dificilmente se acostumariam com aquela luminosidade, pois apesar de ser dia, a sala estava muito escura. Abri meu celular para tentar ver que horas eram, mas esqueci que a bateria tinha acabado ainda em casa. Por sorte ela ainda teria o carregador que lhe dei de presente, afinal até o gosto para celulares temos em comum. Levantei ainda um pouco tonto, pus minhas mãos na nuca, em busca de algum sinal de sangue. Por sorte apenas tive a reação de dar um grito quando toquei no galo que tinha se formado quando caí...”


          “Segue outros trechos da carta de Maurício” - Dizia a apresentadora.


          “...pelo visto passei algumas horas desmaiado, o que me assustou, pois poderia ter acontecido o que eu temia. Minha primeira reação foi gritar pelo nome dela. Não obtendo resposta, o sangue começou a correr mais violentamente nas minhas veias. Não poderia.... não aceitaria que algo tivesse acontecido com ela por meu descuido...”


          “...isso não faz sentido. Eu sei que foi por ali que eu entrei, é impossível que agora eu não consiga abrir...”

          Com os olhos fixos e a respiração curta, David absorveu cada letra daquela carta, aguardando o que estaria por vir.

Próximo capítulo: O Início

1 Comentário:

Tio disse...

eeeh...agora que começa a diversao xD