Down

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

          Em uma tarde qualquer, vários supervisores estavam exercendo as suas profissões nas diversas escolas de educação infantil das redondezas. Nada muito diferente do rotineiro, se não fosse pelo que estávamos para testemunhar em uma determinada escola, onde a pequena Clarinha estudava.
          Clarinha era uma criança que corria, brincava e conversava quase como todas as outras, com exceção de um fato que a tornava muito especial. Clarinha era portadora da Síndrome de Down. O trabalho que a supervisora chamada na escola naquela tarde fazia, era justamente o de avaliação de métodos de ensino que eram utilizados quando se trata de ensinar crianças com necessidades especiais.
          A tarde ia passando, enquanto o professor inventava as mais diferentes brincadeiras para educar os pequenos, que algum tempo irão se tornar nossos Médicos, nossos Advogados, nossos Dentistas…
          Porém quanto mais o tempo avançava, mais as tentativas de incluir Clarinha nas brincadeiras iam se tornando frustrantes. Nas brincadeiras de roda ela era a última a sentar quando a música acabava, as respostas dela às perguntas mais simples se tornavam um emaranhado de sílabas muitas vezes de difícil compreensão, os desenhos que ela fazia geralmente não passavam de riscos disformes, longe de se tornarem alguma obra interessante, mesmo para uma criança de poucos anos de idade. E seus coleginhas riam… ah como eles riam dela.
          Em uma tentativa desesperada, o professor titular naquele dia resolveu contar uma história. A história do sol.
          Colocou todos sentados em uma roda, e começou a falar sobre o quanto o sol era uma coisa boa, o quão bem o sol faz para os animais, ajudando a mantê-los aquecidos, ajudando a secar os pelos que a noite gelada molhava, ou o quanto era útil para as plantas, ajudando as folhinhas respirarem, e até mesmo da importância que o sol tinha diretamente para as pessoas desse mundo.
          Após pausadas explicações, vários folhas de ofício foram pegas e distribuídas por entre as crianças e muitos lápis de cor foram jogados no meio da rodinha para cada criança pegar um e desenhar o seu sol.
          Alguns minutos se passaram, quando praticamente todas as crianças tinha desenhado seus sóis amarelos, dos mais diversos tamanhos, com olhos, boca, inclusive alguns com bracinhos e perninhas. Todas menos uma…
          Clarinha ainda estava olhando para aquela folha de papel quando seus coleguinhas já demonstravam sinais de impaciência, por ela nem ter começado ainda.
          Foi então que ela pegou um lápis com a cor preta, e começou a socar a ponta dele com força naquela folha de papel. Quanto mais força ela fazia, maior era o silêncio que começava a pairar pela sala. Então, já sem idéias, o professor exausto anda até a supervisora, coloca-lhe a mão no ombro e diz:
          - Tá vendo como é difícil trabalhar com ela? Não consigo fazer ela participar, e quando ela participa ela faz coisas completamente sem sentido. Não sei o que fazer…
          Nesse momento, a supervisora anda até Clarinha, agacha-se ao lado dela, envolve-a nos braços, aponta para a folha e diz:
          - Sol, Clarinha?
          Então um dos mais belos sorrisos existentes na face da terra se abre no rosto daquela criança, que aponta pra janela e diz:
          - uuuuVÁÁÁÁÁÁÁÁÁ…
          Então um arrepio percorre toda a extensão do corpo da supervisora, ao desviar seu olhar para a janela e perceber que estava chovendo

Até quando o ensino irá ser levado por profissionais despreparados para lidar com as situações que exigem que uma rotina diferenciada seja aplicada quando alunos diferenciados pisam nas salas de aula?
Até quando as pessoas irão se esconder atrás do rótulo de 'crianças especiais' que precisam de aprendizagem diferenciada, quando na verdade é o ensino que precisa ser modificado?
Até quando iremos pensar que essas crianças não tem nenhuma percepção do mundo à sua volta, quando na verdade somos nós que não temos essa capacidade?
Por que os professores se atém a explicar coisas que não fazem o menor sentido para o cotidiano, quando o que os alunos realmente necessitam é perceber que o que está sendo ensinado é de fato o que está sendo vivenciado?
POR QUE o professor decidiu ensinar sobre como o sol é importante se estava CHOVENDO?
Este conto na verdade é uma percepção minha, de um fato verídico que foi contado à mim. Nenhum nome escrito condiz com a realidade, por motivos óbvios…



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