segunda-feira, 22 de março de 2010
A última folha caiu da árvore. Aquela grande folha marrom de plátano suavemente bailava até tocar o solo. Era o fim do Outono. Os campos, antes verdejantes e cheios de margaridas e copos-de-leite, logo ficaram marrons. A geada terminava de pintar a paisagem com cores completamente sem vida. E aquele velho homem sabia o que isso significava. Ele esperava por esse momento por doze invernos. O crepúsculo se aproximava. Chegava a ser uma blasfêmia pensar sobre o que devia ser feito. Já tinha separado algumas poucas provisões, afinal o peso não era um aliado em potencial. Também separou algumas garrafas de água e um canivete, que era uma ferramenta imprescindível naquela jornada. Agradecia cada dia pelos suíços terem inventado um artefato tão incrível como aquele. O vento começou a soprar mais forte. - A hora se aproxima - pensa ele enquanto termina de dobrar alguns pedaços de pano que em algum momento talvez foram chamados de vestes novas, mas que agora nada além de trapos para cobrir-se quando os primeiros flocos de gelo começassem a cair. Chegava a sentir calafrios cada vez que pensava as dificuldades que tinha certeza que passaria. Mas não havia problema, ele tinha feito cada passo que deveria dar em sua mente.
Toda vez que deitava em sua cama e lembrava do que aconteceu, não conseguia evitar pensar no mau que se aproximava, e no que ele deveria fazer para impedi-lo. Não sabia por que, mas tinha a certeza de que ele era o único que poderia cumprir a missão. Pensava em todos os amigos que teria que deixar para trás, mesmo não sendo muitos, os poucos que ainda restavam, sabia ele que eram fiéis, e com certeza insistiriam até a última instância para acompanhá-lo nessa jornada.
Um calafrio percorreu a sua espinha.
Não sabia ao certo o que isso significava. Sua avó com certeza teria dito alguma porção de coisas sobre isso, incluindo o fato de que ele deveria escolher entre fazer aquilo ou não. Já tinha notado que sempre nas histórias que ouvia, o personagem principal se via em uma encruzilhada. Quase sempre ele teria que escolher entre a sua amada ou ser lembrado através dos séculos. Era uma pena que isso não iria acontecer com ele. Ele não tinha escolha. Ou talvez até tivesse, mas não estava em tempo de mudar agora. Era seu destino, afinal era o momento que estava esperando.
Folha após folha, outono após outono. O sentimento crescendo no seu peito, a certeza de que aquilo deveria ser feito mais cedo ou mais tarde.
Colocou a mochila nas costas, sentindo com um pouco de dificuldade o peso que iria carregar pelos próximos.... dias? Talvez meses.
Vislumbrou mais uma vez aquela cidade, que tantas boas lembranças lhe traziam.
Estava com medo. Sentia o medo escorrendo pelo peito. Uma leve vontade de despejar algumas lágrimas pensando em tudo aquilo que viveu, em tudo o que sofreu e trouxe como lição em sua vida.
Controlou-se...
Virou para a floresta, os galhos secos pareciam fazer com que as árvores saudassem seus primeiros passos rumo ao destino.
Uma pequena clareira marcava a entrada da floresta.
Doze invernos... Foi tempo suficiente. Já tinha forças para enfrentar. Já tinha curado as feridas, e agora traçava um novo começo em busca daquilo que iria lavar a sua alma.
A solidão... Deveria acostumar-se com ela, afinal seria sua companheira ao longo do caminho, além de alguns esquilos e pássaros que eventualmente desistiram de ir para o Sul junto com a corrente migratória. Andou um pouco mais em direção à floresta. Olhou para o horizonte, virou-se para o coração daquele desfile de troncos secos e então o viu, estava esperando. Talvez tivesse esperando por todo esse tempo, o que seria provável, afinal ele sabia que a coragem iria tomar novamente aquele corpo. Mesmo sendo apenas um vulto, uma sombra no caminho, por alguns instantes parecia sorrir.
Esticou as costas, enrijeceu a barriga, respirou fundo o que seria talvez o último ar que iria sentir daquela cidade. Olhou novamente para ele, então sentiu que deveria começar a andar.
E então adentrou a floresta, guardando no coração o que talvez fosse o último fio de esperança que o mundo jamais teria...
Toda vez que deitava em sua cama e lembrava do que aconteceu, não conseguia evitar pensar no mau que se aproximava, e no que ele deveria fazer para impedi-lo. Não sabia por que, mas tinha a certeza de que ele era o único que poderia cumprir a missão. Pensava em todos os amigos que teria que deixar para trás, mesmo não sendo muitos, os poucos que ainda restavam, sabia ele que eram fiéis, e com certeza insistiriam até a última instância para acompanhá-lo nessa jornada.
Um calafrio percorreu a sua espinha.
Não sabia ao certo o que isso significava. Sua avó com certeza teria dito alguma porção de coisas sobre isso, incluindo o fato de que ele deveria escolher entre fazer aquilo ou não. Já tinha notado que sempre nas histórias que ouvia, o personagem principal se via em uma encruzilhada. Quase sempre ele teria que escolher entre a sua amada ou ser lembrado através dos séculos. Era uma pena que isso não iria acontecer com ele. Ele não tinha escolha. Ou talvez até tivesse, mas não estava em tempo de mudar agora. Era seu destino, afinal era o momento que estava esperando.
Folha após folha, outono após outono. O sentimento crescendo no seu peito, a certeza de que aquilo deveria ser feito mais cedo ou mais tarde.
Colocou a mochila nas costas, sentindo com um pouco de dificuldade o peso que iria carregar pelos próximos.... dias? Talvez meses.
Vislumbrou mais uma vez aquela cidade, que tantas boas lembranças lhe traziam.
Estava com medo. Sentia o medo escorrendo pelo peito. Uma leve vontade de despejar algumas lágrimas pensando em tudo aquilo que viveu, em tudo o que sofreu e trouxe como lição em sua vida.
Controlou-se...
Virou para a floresta, os galhos secos pareciam fazer com que as árvores saudassem seus primeiros passos rumo ao destino.
Uma pequena clareira marcava a entrada da floresta.
Doze invernos... Foi tempo suficiente. Já tinha forças para enfrentar. Já tinha curado as feridas, e agora traçava um novo começo em busca daquilo que iria lavar a sua alma.
A solidão... Deveria acostumar-se com ela, afinal seria sua companheira ao longo do caminho, além de alguns esquilos e pássaros que eventualmente desistiram de ir para o Sul junto com a corrente migratória. Andou um pouco mais em direção à floresta. Olhou para o horizonte, virou-se para o coração daquele desfile de troncos secos e então o viu, estava esperando. Talvez tivesse esperando por todo esse tempo, o que seria provável, afinal ele sabia que a coragem iria tomar novamente aquele corpo. Mesmo sendo apenas um vulto, uma sombra no caminho, por alguns instantes parecia sorrir.
Esticou as costas, enrijeceu a barriga, respirou fundo o que seria talvez o último ar que iria sentir daquela cidade. Olhou novamente para ele, então sentiu que deveria começar a andar.
E então adentrou a floresta, guardando no coração o que talvez fosse o último fio de esperança que o mundo jamais teria...
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