Imersão em Contos [6]

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Leia a série do início: Prolegômeno

Capítulo anterior: O Quarto

O Desespero

          Com o início do novo intervalo, David precisava de alguma atividade para conter a incredulidade que o consumia enquanto não começava um novo bloco. Decidiu ir até o quarto e pegar um cortador de unhas, para aparar aquelas pontas indesejáveis que ficavam puxando fios. Mas com certeza não iria cortar muito curto, pois a unha é um bom artifício quando se está com pressa e pegar a chave de fenda é uma tarefa que possa consumir mais do que alguns segundos.


          Novamente sentado, começa a cortar os pedaços pontudos remanescentes, e a cada parte da unha que cai, derrubava também um pouco daquela sensação estranha que o perseguia. E assim os dois minutos do intervalo foram passando, ainda que lentamente para ele. Assim que o programa retorna, retornam também os sentimentos e, novamente com aquele aperto no peito, David senta-se de uma maneira um pouco torta, cruza a perna, repousando o tornozelo direito em cima do joelho esquerdo, apoia os braços nas pernas e volta a assistir...


          O terceiro bloco inicia com uma música clássica calma, mostrando recortes de jornais onde as manchetes das notícias eram sobre o que havia ocorrido dentro da casa. Frases como “O Segredo Ainda Vive”, “O que teria acontecido com Maurício?”, “Em busca de respostas”, e algumas outras, se sobrepunham no primeiro plano da tela. As imagens começavam a acelerar e apareciam em um intervalo de tempo cada vez menor, ao passo que a música clássica ficava mais agitada a cada instante, intensificando a ansiedade de David. A última imagem a aparecer na tela que também marcava a última nota da sinfonia foi uma imagem da porta da casa onde Maurício estava, semicerrada, com uma luz forte vindo de dentro dela e os dizeres: “O Mistério Por Trás da Porta...”. Então, novamente, ouve-se a voz do narrador imitando a de Maurício...


          “Eu sabia que não devia ter tirado essas fotos. Não aguento mais isso... Esse desespero, essa vontade louca de bater a cabeça na parede até ela explodir e jorrar sangue por toda a casa. Isso está me consumindo. Os flashes grudaram essas malditas imagens na minha retina. Queria poder arrancar meus olhos, mas tenho certeza que mesmo assim não iria adiantar. Minha mente fica processando essas imagens cada vez que eu inspiro o ar carregado dessa casa horrenda.


          Estou a algumas horas sentado nesse carpete com a cabeça entre os joelhos, pensando em tudo que estou vendo. De onde vem todo esse sangue? Por favor meu Senhor, se é que existe alguém aí encima olhando por mim, me ajude. Não sei o que me faz sentir pior, se é o fato de a Luna ter desaparecido defronte aos meus olhos, ou quem sabe seja essa maldita dor de cabeça que não para nem um segundo. Também pode ser o fato de eu estar PRESO NESSA DROGA DE LUGAR há tanto tempo que já nem sei mais quanto tempo faz desde que entrei aqui... Para mim chega. Já é hora de sair daqui de uma vez por todas!
          Adeus...
          E espero que esse seja definitivo...”


          Esse texto foi encontrado ainda dentro do quarto apresentado nas fotos. Claramente percebe-se a inquietação crescer dentro de Maurício. Estima-se que enquanto escrevia essas palavras, fazia uma semana que ele já estava dentro da casa. O trecho a seguir foi encontrado dentro do quarto que, até o momento, ele ainda não tinha entrado. Nota-se uma letra um pouco diferente, mais disforme e apresentando traços de nervosismo aparente. De fato vocês entenderão o porquê...


          “Por que isso? Por que comigo? Eu não entendo o que eu fiz pra merecer esse tipo de coisa. Estou aqui novamente atirado ao chão, sentado, com cada centímetro do meu corpo envolto pelo medo. Eu tinha certeza que eu conseguiria em algum lugar encontrar qualquer coisa que pudesse me tirar dessa casa. Um martelo, um bastão, qualquer coisa que pudesse quebrar uma janela sem grades, ou destruir a madeira das portas. Mas eu não esperava encontrar algo parecido com isso. Eu consigo sentir sua respiração quente no meu pescoço. Eu consigo sentir o ar se movimentando em minha direção, cada vez que ela se aproxima. Não consigo ver nada, mas sei onde está. Sei que está perto de mim. Sei que está me fitando cada instante. Não sei o que é, ou quem é, muito menos imagino por que está me assombrando dessa maneira... Sinto uma gota de suor gelado escorrendo lentamente. UM GRITO!


          Um salto.


          E novamente caio de costas quase batendo a cabeça no guarda-roupas, enquanto escuto algo vítreo se quebrando, provavelmente a centímetros de mim. Meus tímpanos seguem por vários momentos tilintando os farelos do vidro estraçalhando-se. Pressiono as palmas das mãos contra minha orelha na tentativa de fazer aquilo terminar, porém isso apenas intensificou o barulho que ecoava em mim a ponto do próximo grito ser resultante do ar passando pelas minhas cordas vocais, arranhando minha garganta. Um grito saído do fundo da alma. Um grito tentando lavar as feridas que começavam a se formar nela.


          No momento em que esse grito percorre os móveis da casa, lentamente o zumbido vai se dissipando e também some a certeza de que há mais alguém nesse quarto. Posso agora abrir os olhos, mesmo sem enxergar quase nada, e sem ver movimentação alguma ao redor, ou ouvir qualquer som que habitasse o interior desse recinto. Rápido como um lince, irei agora sair desse quarto amedrontador, não sem antes bater com todas as minhas forças essa porta, para ter a certeza de que não irei entrar aqui novamente...”


          Ainda no terceiro bloco, assim que o brilho de cada átomo de fósforo se dissipava lentamente, fazendo com que as imagens desaparecessem da TV de plasma daquela sala, um risco branco cortando a tela de fora a fora se fez. Um chiado forte tomou conta da sala. E o que invadiu os tímpanos de David foram sons que com certeza ainda iriam martelar sua cabeça por muito tempo, buscando uma sensata explicação para o que ouvia...

5 Comentários:

Anônimo disse...

Gostei da continuação, porém o nível está abaixo dos anteriores... Espero que os próximos capítulos sejam mais próximos aos antigos. De qualquer forma, continuo curioso para saber o desfecho.

Paloma Rizzi disse...

Desculpe senhor anônimo, mas não acho que o nível está abaixo dos anteriores, já que, a continuação me deixou com o mesmo sentimento de quero mais dos outros, realmente só não entendi a parte de não corta as unhas muito curtas para poder usar de chave de fenda, mas fora isso tudo muito bem escrito como os outros.. shauhsuahs

Quero muito saber o que vem a seguir, alias a seguir não, pq algo me diz q ainda estamos longe de saber a solução dos mistérios, quero mesmo é descobrir o que esta acontecendo nessa casa duma vez, queria que isso fosse um livro pra não precisa esperas pra saber a continuação...

Vamos logo Álisson, amanhã é quarta feira, bem q podia sair mais um capítulo neh? ^^

Alfer Medeiros disse...

Manda mais! rs

Mauricio Xavier disse...

Vamo lá tchê. To esperando a setima parte.

Mauricio Xavier disse...

Viu não sei se eh só comigo, mas quando vou postar algo fica todo torto os botões. Tenho que fica dando "Tab" pra pode enviar o comentário.